Aumento de idosos no Ceará requer preparo para o futuro

Envelhecer é um dos únicos processos seguramente contínuo na experiência humana. Mudar de idade é adaptar-se à nova realidade e limitações que surgem. No Ceará, em 2018, dos 9.076.426 habitantes, 12% têm mais de 60 anos, enquanto 22% têm entre 0 e 14 anos, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 17 anos – 2035 – a proporção de idosos no Estado irá superar a de crianças e adolescentes. Quando o Ceará alcançar a marca dos 9.744.180 habitantes, 19% terão mais de 60 anos e 18% menos de 14 anos.

A futura predominância de idosos frente à população de jovens, atrelada ao contínuo aumento de expectativa de vida no Estado (atualmente de 74 anos para ambos os gêneros) e a mudança no perfil desta população, cada vez mais ativa e distante de rótulos como “dependente e/ou doente”, requer preparo das gerações atuais para garantir condições adequadas de vida a quem ultrapassa os 60 anos.

Essas transformações incluem a necessidade de atenção ao envelhecimento ativo, termo adotado no fim dos anos 90 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), conforme a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Esse processo, segundo a Opas, que é saudável e desejável, demanda que a população idosa tenha uma vida social dinâmica, participando das ações comunitárias conforme seus desejos e capacidades. Ao mesmo tempo, essa realidade requer que, seja no campo privado (vivências familiares) ou público, seja assegurado aos idosos os cuidados necessários.

No Ceará, um conjunto de dimensões se entrelaça nesse movimento de transformação no perfil etário da população. Em 30 anos, a expectativa de vida, se considerado ambos os gêneros, aumentará 4 anos no Estado, conforme estimativas do IBGE, chegando aos 78 anos. Hoje, os homens têm uma expectativa de 70 anos, enquanto a das mulheres cearenses é de 78 anos.

Vida ativa

O conceito reafirmado pela OMS é experimentado na prática por idosos cearenses que, apesar do avanço da idade, não abrem mão de continuarem tendo uma vida ativa. Afinal, como parar de trabalhar repentinamente após mais de 30 anos realizando um serviço que se tem apreço? Porque abandonar os hábitos de lazer, como a dança, apenas porque o corpo agora tem certas limitações? Como parar de interagir com as novas gerações somente porque o corpo já não conserva a mesma agilidade, embora a mente esteja lúcida e produtiva?

Para o feirante Luiz Gonzaga Costa, 75 anos, estar em feiras nos distintos bairros da Capital tratando e vendendo pescado é garantia de duas coisas: renda extra que complementa a aposentadoria e realização de sentir-se em pleno contato com uma infinidade de compradores e vendedores. “A gente cansa um pouco. Tenho que dizer que é diferente de antes, mas do jeito que eu gosto, eu quero é continuar até onde der. Eu não penso em parar”, ressalta. A rotina de Gonzaga, morador do bairro Demócrito Rocha, inclui acordar às 5h durante quatro dias da semana e trabalhar até as 12h. Se para o feirante as vivências na rua o conservam ativo, para o dentista aposentado Elmar Pinto Farias, morador do Bairro de Fátima, as experiências no interior do lar são as que mais o oxigenam. Aos 94 anos, Elmar, que tem seis filhos, 10 netos e dois bisnetos, conta que gosta de passear, “ir ao Parque do Cocó, viajar para Guaramiranga”, mas é nas atividades realizadas na própria casa que reside sua maior satisfação.

Colecionador de selos, envelope de cartas, moedas e relógios, Elmar narra com lucidez o valor de seus acervos. O conhecimento é repassado a filhos, netos e a quem aceitar ser ouvinte de suas narrativas firmes. “Eu não tive vícios. Não fumei, não bebi. Não tenho problema de saúde. A última vez que eu fui no médico ele disse: ‘Elmar, você não tem jeito, vai morrer de velhice”, conta orgulhoso da boa condição.

Entusiasmo semelhante ao das idosas, que todas as segundas-feiras reúnem-se no Conjunto Ceará, para participar do grupo de convivência e dança. Entre elas, a aposentada Joana Nogueira, de 78 anos. Viúva e com os sete filhos já “fora de casa”, Joana faz da dança, prazer antigo, uma atividade permanente pelo menos três vezes na semana. O palco é o grupo de idosas e o forró no próprio bairro. “Além da dança, eu faço crochê, pintura e sou eu que ajeito tudo na minha casa. A gente se sente só e é bom ficar ocupada, encontrar pessoas, se sentir viva”, afirma.

Práticas

O presidente da Sociedade de Geriatria e Gerontologia do Ceará, Alexandre Cavalcanti, avalia que o Brasil passa por uma rápida transformação demográfica. “A França, por exemplo, envelheceu em 200 anos o que Brasil envelheceu em 20. E uma das diferenças é que, ao andar na Europa, percebemos um país acessível, o que no Brasil ainda é um desafio”, reforça, acrescentando que “ter uma cidade acessível é fundamental para se ter um idoso ativo e independente”. Ele explica que, em geral, na população idosa, as pessoas com 80 anos ou mais são classificadas como “muito idosas” e as centenárias “super-idosas”.

O geriatra orienta que a vivência da velhice de forma qualificada está atrelada a várias dimensões, dentre elas: a genética e as boas práticas em outras etapas da vida. “Ter atos saudáveis desde criança vai repercutir no idoso que você será. Não há como ter um idoso saudável sem praticar exercício, sem ter uma boa alimentação, sem dormir adequadamente”, ressalta.

Fonte: Diário do Nordeste

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