A segunda Teleconferência sobre Saúde Mental dos Adolescentes em Época de Pandemia reuniu pelo menos 239 participantes de 91 municípios cearenses na manhã desta quarta-feira (10/2). A ação integra a agenda da Resposta do Ceará à Covid-19, formada por diversas entidades como APDMCE, UNICEF e Ministério Público Estadual. A palestra é a segunda ministrada pela professora Alessandra Xavier, do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), de um ciclo de capacitações semanais que seguem até abril. O primeiro evento ocorreu no último dia 3/2.
Voltada para psicólogos, assistentes sociais e educadores que atuam nos equipamentos públicos municipais, a primeira etapa da programação tem como foco construir habilidades e competências teórico-práticas para prevenção em saúde mental de adolescentes. “Não dá pra gente pensar a saúde mental sem a dimensão intersetorial e a capacitação técnica, mas também sem recursos e investimentos”, defende a professora Alessandra Xavier.
A palestrante explica a importância de uma rede intersetorial fortalecida, com profissionais capazes de identificar casos que levantem sinais de alerta de suicídio entre adolescentes. Isso envolve um trabalho completo de identificar dores e demandas desse público, reforça. “Os professores precisam ser preparados para uma acolhida e uma escuta técnica. Porque essa escuta, se não for feita da forma correta, pode piorar ainda mais a situação”, alerta.
Entre as expectativas e medos dos adolescentes, figuram o receio de não ser amado e aceito, o bullying por racismo, preconceitos relacionados à orientação sexual, abusos físicos e sexuais, a falta de perspectivas para o futuro, dentre outros. “A desesperança possui papel central na compreensão do comportamento suicida. Desesperança é definida como um conjunto de expectativas negativas para o futuro. A desesperança tem relação direta com a confiança em mim e nos outros e com a falta de vínculos”, explica a docente. “Essa falta de confiança em si e no outro é consequência de uma série de perdas externas e internas, e isso vai criando um vazio mortal”, complementa.
Alessandra Xavier relatou, ainda, a experiência de um projeto-piloto em parceria com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) que teve como foco o acompanhamento da saúde mental de adolescentes nas escolas. “Em um mês e meio a gente bloqueou 67 tentativas de suicídio. Desses 500 adolescentes (que estavam no projeto), a gente não teve nenhuma morte por suicídio, o grupo se constituiu como fonte de suporte”, enfatiza. Ela atenta para a necessidade de elaborar protocolos clínicos direcionados a construir recursos psíquicos para lidar com a dor.
Também participou deste segundo encontro online o promotor de Justiça Hugo Porto, coordenador do programa Vidas Preservadas, uma iniciativa do Ministério Público do Ceará em parceria com outras instituições, entre as quais a APDMCE. “Nós sabemos da relação entre a pandemia e a saúde mental. O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Precisamos reforçar a importância da transversalidade, pois ninguém faz nada só. Esse acolhimento em sociedade é o que nos faz viver melhor”, ressalta.
A implementadora do Selo UNICEF no Ceará, Amélia Prudente, ressaltou a importância de se discutir saúde mental, um tema que antes era tratado de forma velada. “Não queremos que essa rede (de saúde mental) seja trabalhada só com três profissionais nos municípios, pois sabemos que a demanda está aumentando. Não adianta ter apenas o profissional se não tiver o equipamento estruturado”, pontua. Ela acrescentou que a Resposta do Ceará à Covid-19 vai pautar outras temáticas prioritárias, como busca ativa escolar, proteção social e saúde da criança.