Em capacitação do Selo UNICEF, médico epidemiologista defende isolamento social rígido em cidades epidêmicas para conter a Covid-19

O encontro ocorreu na tarde de terça-feira, 12 de maio, e contou com a presença de quase 200 participantes de 107 municípios cearenses 

Dando início à última etapa de capacitações antes da certificação, que ocorre em dezembro, o Selo UNICEF promoveu na terça-feira (12) um debate virtual, com participação de 196 participantes de 107 dos 169 municípios cearenses participantes da edição 2017-2020 do Selo UNICEF, sobre a manutenção de serviços essenciais durante a pandemia e as ações realizadas nas cidades do Interior para combater o novo coronavírus. O momento marcou o lançamento do VI Ciclo de Capacitações do Selo, que ocorrerá até o dia 3 de junho, dividido em quatro fases.

Na ocasião, o coordenador da Célula de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Fortaleza, Antônio Lima, fez um balanço sobre a situação da capital cearense em relação à epidemia do novo coronavírus e respondeu perguntas dos participantes. Em sua fala, o médico epidemiologista defendeu que haja uma espécie de georreferenciamento de casos confirmados de Covid-19, com isolamento social mais rígido, o lockdown, em cidades consideradas epidêmicas. 

Médico epidemiologista Antônio Lima

O resultado mais imediato dessas medidas, explica o médico epidemiologista, é a contenção da disseminação do vírus para municípios que ainda não estão em fase mais crítica e não contam com estrutura hospitalar adequada. “Precisa haver um isolamento social mais rígido de alguns locais que estão epidêmicos, isso precisa ser feito principalmente no Interior, que tem menos leitos de UTI”, aponta. As medidas incluem limitação de pessoas e veículos e eventual bloqueio de estradas intermunicipais.

Antônio Lima explicou ainda que a explosão de casos na cidade de Fortaleza reflete, dentre outras coisas, a desigualdade social latente na Capital. “Uma epidemia como essa mostra as nossas fragilidades”, resume. Com precariedade de acesso a políticas públicas e pouca capacidade de garantir isolamento social em regiões mais periféricas, onde o adensamento populacional é elevado, o vírus se dissemina com uma rapidez ainda maior.  Para ele, neste momento tão desafiante é importante que a ciência seja valorizada. “A negação da ciência tem feito a gente viver um pesadelo dentro de outro”, sentencia. 

O encontro também contou com presença da terapeuta ocupacional e consultora para ações de Saúde do Selo UNICEF no Ceará, Metilde Ferreira, que ressaltou a importância de os municípios garantirem a continuidade de serviços essenciais à população durante este período de isolamento social, como consultas de pré-natal e de puericultura, mas com os aparatos de prevenção à Covid-19. “As atividades essenciais precisam funcionar, mas é importante garantir os cuidados”, salientou.

Metilde reforçou a importância de divulgação dos boletins diários sobre as notificações dos casos da Covid-19. “A comunidade tem papel importante, mas o poder público é fundamental. É importante que a população seja orientada”, disse, alertando sobre a necessidade de continuar garantindo preservativos e testes rápidos de HIV nos postos de saúde e disponibilizar canais de suporte psicológico para adolescentes nesta etapa de distanciamento social.

Durante o encontro, o coordenador do escritório do UNICEF no Ceará, Rui Aguiar, lembrou dos 20 anos de certificação do Selo UNICEF no Estado, comemorado em maio. Ele destacou que, ao longo dessas duas décadas, já foram realizadas inúmeras capacitações em diferentes lugares e metodologias. Destacou que agora, de forma inédita, o Selo promove capacitações online em razão do momento imposto pela pandemia. 

A implementadora do Selo UNICEF no Ceará, Amélia Prudente, ressaltou que os articuladores do Selo devem contar com o apoio das comissões intersetoriais e dos conselhos de direitos de defesa da criança e do adolescente para cumprimento das ações. Ela ainda destacou que o UNICEF produziu, de maneira colaborativa, conteúdos sobre prevenção e continuidade de serviços para crianças e adolescentes no contexto do novo coronavírus. O conteúdo foi disponibilizado a quase cinco mil gestores da Amazônia e do semiárido brasileiro dos 1.924 municípios participantes do Selo UNICEF.

Em um dos vídeos disponibilizados pela organização do Selo, a chefe da área de Saúde do UNICEF, Cristina Albuquerque, orienta sobre o tratamento às gestantes durante a pandemia da Covid-19. “Os atendimentos a todas as gestantes assintomáticas devem ser mantidos durante a pandemia. Aquelas que apresentarem sintomas gripais devem suspender por 15 dias a ida a consultas e, se for necessário, elas serão atendidas isoladamente”, explica, acrescentando ser fundamental orientar a população a suspender as visitas às mulheres grávidas e puérperas neste período para evitar riscos de infecção pelo novo coronavírus.

Presidente da APDMCE, Sônia Fortaleza,
fez o encerramento do encontro

A presidente da Associação para o Desenvolvimento do Estado do Ceará (APDMCE), Sônia Fortaleza, ficou responsável pelo encerramento do encontro. Primeira-dama do município de Várzea Alegre, ela narrou a difícil situação que os municípios têm enfrentado. “A nossa luta é pela sobrevivência. Precisamos estar unidos para enfrentar esse problema que pode atingir qualquer um de nós”, concluiu.

Saiba mais:

Dos dias 18 a 21 de maio, o Selo UNICEF no Ceará promove a segunda fase do VI Ciclo de Capacitações, desta vez com divisão de quatro grupos de municípios (um por dia). Na semana seguinte, de 25 a 28 de maio, a terceira etapa será segmentada por temas.


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